Está doendo, e muito. A
cada dia que passa e afundo minhas memórias em esquecimento, parece que esqueço
que luto a cada dia para tentar me encontrar. Parece que foi ontem, mas faz
anos, em que passava dias sem comer sem nenhum problema. Onde minhas amigas me
acompanhavam nessa jornada. Eu não imaginava que isso um dia iria acabar, e se
tornar somente palavras perdidas no tempo. Existe agora, um enorme vazio dentro
de mim e não é de fome por estar sendo forte como antigamente. Um vazio que o
tempo que passa rápido deixou, um vazio de lembranças e saudade. Um vazio de
arrependimento por não ter aproveitado melhor aquela época, e agora estar
sozinha ainda nesta luta. Não aguento mais esses planos, não aguento
mais me olhar no espelho e ver apenas gorduras. Não aguento mais ser quem eu
não sou. Parece que nasci no corpo errado, trocaram as almas na hora da
criação. Nunca me senti bem nesta pele, não me lembro da última vez que eu fiquei
feliz por ser eu. Não acredito que ainda estou nessa vida, nesse corpo que
nunca muda. Se meu eu de uns anos atrás visse seu atual futuro, certamente se
mataria de angústia e decepção.
Eu quero ser feliz, eu quero
poder me olhar no espelho e ver apenas ossos. Eu quero poder vestir as roupas
do meu estilo sem medo e vergonha quando sair na rua. Quero poder conversar
livremente, perder a timidez que criei quando fui me criando. Quero poder ter amigos
para sair, me divertir sem preocupações. Ser eu sem medo e arrependimentos.
Apenas quero, me quero e não há nada demais nisto. Porque eu não consigo então?
Porque parece que estou estagnada no mesmo ponto em que comecei, será o ponto
final de minha vida?
Mil estações se passaram todas
iguais, e todas as mesmas. Dias que se evaporaram, pessoas que vieram e já se
foram e eu ainda estou aqui, lamentando pelas mesmas coisas. Cansada de apenas
tentar, cansada dessas palavras que não me completam nem me satisfazem mais.
Tantas coisas que já se foram, mas parece que ao mesmo tempo não vivi nada, nem
ao menos uma gota do que eu queria. 18 anos de vida, e se tiver ao menos o
total de 1 ano inteiro vivido, já será demais. Poha, são 18 anos e ainda aqui,
a mesma, do mesmo modo. Inacreditável, só isso. Cada dia eu me supero na arte
de me desiludir, de me perder ao invés de me encontrar. Sair desse labirinto
que criei, dos sonhos que cresceram para cima por não terem sido realizados.
Agora nem ao menos espiar o que o caminho ao lado possui eu consigo. Mais um
pouco e não conseguirei enxergar o céu. Às vezes, a porta está ao lado é só
virar o caminho certo. Às vezes. Quebrar
o ciclo, destruir as correntes. Preciso mergulhar de vez neste mundo para ver
se consigo um pouco de ar para respirar. Estou sufocando cada segundo mais,
morrendo aos poucos por não saber lutar por não saber correr.
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