O momento.

Braços e pernas sempre marcados com machucados e batidas. Sofia fica ao quintal de casa encostada á parede com os olhos fechados sentindo o sol calmo queimar sua pele e o vento refrescar o rosto, balançar a camisola e bagunçar os fios de cabelo que se soltam do coque ao topo da cabeça. Ela nesse minuto sente-se melancólica, confusa sobre sua vida e sobre si. Afinal, onde ela deveria estar naquele segundo? Ela estava exatamente onde queria estar. Todas as escolhas que fez a levou ali naquele segundo, foi por causa dela mesmo. Sentia-se triste por não possuir coisas materiais, por não conseguir ser quem era e possuir tantos segredos trancados a sua alma. Mas no fundo, algum sentido lhe deixava feliz por estar ali. Aquele minuto mágico e aquele sentimento que vem não se sabe de onde, que lhe dará saudades no futuro e fará a pensar "queria me sentir daquele jeito novamente". Os devaneios de sua vida passavam por sua cabeça a medida que o cigarro ia se queimando à mão esquerda de Sofia. Concluiu então que a melhor coisa que existia, era a que possuía agora. A melhor coisa não é aquela que você não tem, a melhor coisa é a que você tem no momento. A melhor vida, a melhor casa, o melhor dia, a melhor família, a melhor câmera, o melhor cigarro (mesmo que adocicado demais), o melhor computador, o melhor café, o melhor chá, a melhor dela mesma, era a que estava ali naquele segundo curtindo as coisas mais simples da vida sem desejar nada mais do que tinha. Sofia abriu os olhos, e a claridade do sol a cegou por um instante e depois começou a ver tudo mais claro. Apagou o cigarro no canteiro, jogou a bituca atrás das plantas, subiu as escadas para casa e continuou a ter seus devaneios e seu melhor dia. A melhor vida era a que estava em sua mão.